Era a quarta ou quinta vez que abria os olhos e não conseguia levantar. Era como se tivesse levado uma surra e ainda estivesse no chão. Que difícil que é esquecer! Fechou os olhos novamente. Precisava dormir, mas todas aquelas imagens...
“Você dança meio bem” ela disse, ferindo o orgulho dele pela primeiríssima vez, e continuaram a dançar. E quantas mais vezes dançaram... E quantos beijos aconteceram, então, às escondidas, pra que seu orgulho não ficasse ainda mais ferido. Mas ela demorou pra entender que era esse o preço que pagaria, sempre.
Abriu os olhos de novo, uma urgência de se explicar, de esclarecer, de voltar o tempo e dizer que dançava com gosto e quantas músicas houvesse! Não podia voltar o tempo... Depois da surra da noite anterior, não podia sequer se explicar. Não havia nada que pudesse fazer que não fosse apenas piorar tudo.Tentou sair do quarto. A claridade do dia não apenas feria seus olhos, mas reforçava a sensação de que era tarde demais. Voltou pra cama. Fechou os olhos. Não viu ninguém, imagem nenhuma. E se afundou nesse vazio com a cabeça enterrada no travesseiro.