26 agosto 2012

Papel? Ofício.

Com os olhos ardendo, ela seguia, afinal, havia se dado um prazo para dar um fim àquilo tudo. As palavras, amigas íntimas de tempos idos, insistiam em dançar barulhentas na sua cabeça e embaralhar-se diante de seus olhos no papel pautado. Tão pouco era seu prazer em estar com elas, que repensava friamente sua escolha. Sortudos os que, aos dezoito anos de idade, escolhem bem o que farão da vida!

Entre pontos e vírgulas, seus pensamentos se perdiam; as palavras os tiravam pra dançar. Os rostos dos alunos não tinham nome, mas a pilha de textos, sim. Era difícil saber quem era a dona do caderno da Playboy. E era ainda mais difícil entender o porquê!

Piscava pesado, em busca de clareza ou descanso, talvez. Em sua mente, imagens. Sonhava por milésimos de segundos a cada piscada longa que dava tentando livrar-se da sensação de ardência. Via planilhas de notas e nomes sem rostos. Achava que aquilo tudo, na verdade, não tinha importância alguma.

Em algum papel com a borda rasgada, um recado: "Professora, adorei essa atividade. Obrigada por nos ensinar a pensar nessas coisas". As palavras pararam de dançar e organizaram-se em uma orquestra afinada.  Os papeis ganharam donos; os rostos, nomes; a correção, sentido; a professora, descanso.


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